========================================================================== |\/ Grupo de Analistas Prepotentes da CD ? Nefelibatas |\/ ========================================================================== Isabele, já havia mandado para a lista este artigo do João Ubaldo. Reenvio-o para aclarar por que acho tão pueril a criação do tal "Dia da Resistência", especialmente por ser obra de um presidente de uma nação miscigenada. Deixo a seu encargo as devidas analogias. [ ]s, Roberto Jardim. =========================== O BESTEIROL DOS 500 ANOS João Ubaldo Ribeiro Levando-se em conta nossa pitoresca realidade contemporânea, até que a quantidade de besteiras dita e escrita sobre o controvertido aniversário do Brasil não dá para surpreender. O que chateia um pouquinho é que diversas dessas besteiras continuarão a perseguir-nos pela vida afora, algumas talvez trazendo conseqüências indesejadas. A principal delas, naturalmente, é a de que o Brasil começou em 1500, quando nem mesmo no nome isso aconteceu, posto que éramos uma ilha quando os portugueses primeiro viram as terras daqui e, durante muito tempo, o Brasil que duvidosamente existia não tinha nada a ver com o Brasil de hoje. A impressão que se tem é que, do povo às autoridades e mesmo aos entendidos, acha-se que o Brasil já estava no mapa, com as fronteiras e características atuais, no momento em que Cabral chegou. Teria tido até um nome nativo, já proposto, pelos mais exaltados, para substituir "Brasil": Pindorama, designação supostamente dada pelos índios ao nosso país. Não sou historiador, mas também não sou tão burro assim para acreditar que os índios tinham qualquer noção geopolítica, ou alguma idéia de que pertenciam a um "país" chamado Pindorama. Não havia qualquer país, é claro, nem sequer a palavra Pindorama devia fazer sentido para os ocupantes que os portugueses encontraram aqui, se é que ela era usada mesmo. No máximo, significaria o único mundo conhecido deles. Parece assim que os nossos índios administravam impérios e cidades como os dos maias, astecas ou incas, quando na verdade, que perdura até hoje, viviam neoliticamente e a maioria esgotava os numerais em três - era o máximo que conseguiam contar e o resto se designava como "muito". Como corolário disso, vem a tese de que fomos invadidos. Com perdão da formulação pouco ortodoxa da pergunta, quem fomos invadidos? Todos nós, salvante os mais ou menos 400 mil índios que sobraram por aí, somos descendentes dos invasores, inclusive os negros, que não vieram por livre e espontânea vontade, mas também não viviam aqui na época de Cabral e hoje constituem parte indissolúvel de nossa, digamos assim, identidade. Imagino que haja quem pense que, diante de uma delegação portuguesa, algum diplomata ou general índio tenha argumentado que se tratava da ocupação ilegal de um Estado soberano do Oiapoque ao Chuí e que aquilo não estava certo, cabendo talvez a intervenção das Nações Unidas. Se a História tivesse tomado rumos um pouquinho diferentes, nossa área hoje podia estar subdividida em vários países diferentes, uns falando português, outros espanhol, outros holandês, outros francês. Do Tratado de Tordesilhas às capitanias hereditárias, aos movimentos separatistas e à ação do Barão do Rio Branco, muita coisa se passou para que nos tenhamos tornado o Brasil que somos hoje. Ninguém chegou aqui e descobriu o Brasil já pronto e acabado (se é que podemos falar assim mesmo agora), isto é uma perfeita maluquice. O Brasil, é mais do que óbvio, se construiu lentamente e às vezes aos trancos e barrancos. Compreende-se que nativos de países como o Peru, o México e outros, notadamente na América Central, se sintam invadidos. Até hoje são numerosos e discriminados, muitos nem falam espanhol e, quando aportaram os conquistadores, tinham cidades maiores do que as européias. Mas nós? Quem, com a notável exceção do amigo pataxó e da jovem senhora xavante que ora me lêem, foi aqui invadido? Vamos supor, já jogando no terreno da absoluta impossibilidade, que o chamado mundo civilizado ignorasse a existência destas terras até hoje. Teríamos aqui, não o Brasil, mas uns quatro milhões de nativos de beiço furado e pintados de urucu e jenipapo (nada contra, até porque furamos as orelhas, nos tatuamos e usamos batom, é uma questão de estilo), que não falavam as línguas uns dos outros, matavam-se entre si com alguma regularidade e cuja tecnologia não era propriamente da era informática. Brasil mesmo, nenhum. Mas está ficando politicamente correto, suspeito eu que por motivos incorretíssimos, abraçar a tese da invasão do Brasil. "Nós fomos invadidos, fomos invadidos!", grita em português brasileiro, a única língua que sabe, um manifestante mulato, em Porto Seguro. Será possível que não se perceba a vastidão dessa sandice? Daqui a pouco - e aí é que mora o perigo - entra na moda de vez e os resquícios das nações indígenas que ainda subsistem deverão aspirar à soberania sobre os territórios que ocupam. Como na Europa Oriental, cada etnia quererá ter seu estado e sua autonomia, com bandeira, hino, moeda (dólar, para facilitar) e passaporte. Que beleza, formar-se-á por exemplo, depois de um plebiscito entre os índios, o Estado Ianomâmi, completamente independente e ocupando área bem maior do que muitos outros países do mundo juntos, reconhecido pelas organizações internacionais e protegido pelo grande paladino da liberdade dos povos, os Estados Unidos, que mandariam missionários e ajuda econômica e tecnológica e, desta forma, investiriam desinteressadamente numa área tão pobre em recursos econômicos e que tão pouca cobiça desperta, como a Amazônia. E, se protestássemos, a Otan bombardearia o Viaduto do Chá, a Ponte Rio-Niterói e o Elevador Lacerda, como advertência. Cometeram-se e cometem-se crimes inomináveis contra os índios, que devem ter seus direitos assegurados. Também se cometeram e cometem crimes contra grande parte dos brasileiros não-índios, outra vergonha que precisa ser abolida. Mas isso não tem nada a ver com a tal invasão, assim como a outra série de besteiras intensamente veiculada, segundo a qual, se não houvéssemos sido colonizados pelos portugueses, estaríamos em melhor situação, assim como estão em melhor situação a antiga Guiana Inglesa, o Suriname, a Indonésia, a Nigéria, a Somália, o Sudão e um rosário interminável de ex-colônias européias, quando na verdade se trata de um caso claro de o buraco achar-se bem mais embaixo. Como é que se diz "babaquice" em tupi-guarani? -----Mensagem original----- De: analistas2002-bounce@xxxxxxxxxxxxx Enviada em: quarta-feira, 13 de outubro de 2004 13:23 Para: Camaradas (Correio eletrônico) Assunto: [Nefelibatas] RES: [Nefelibatas] Dia da Resistência (ou: Ode à imbecilidade) Palhaçada, demência e imbecilidade é o que fazemos até hoje com os povos aborígenes pelo mundo, sem respeitar suas culturas, achando que temos o direito de sair detonando tudo e, o pior, que somos melhores! Gostei da criação do DIA DA RESISTÊNCIA. -----Mensagem original----- De: analistas2002-bounce@xxxxxxxxxxxxx [mailto:analistas2002-bounce@xxxxxxxxxxxxx]Em nome de analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Enviada em: quarta-feira, 13 de outubro de 2004 11:15 Para: 'analistas2002@xxxxxxxxxxxxx' Assunto: [Nefelibatas] Dia da Resistência (ou: Ode à imbecilidade) ========================================================================== |\/ Grupo de Analistas Prepotentes da CD - Nefelibatas |\/ ==========================================================================. . . Palhaçada ou demência? [ ]s, Roberto Jardim. =================================== Venezuelanos derrubam Colombo no Dia do Descobrimento BBC Uma estátua centenária do "descobridor" da América, Cristóvão Colombo, foi derrubada por uma multidão, nesta terça-feira, no centro de Caracas, na Venezuela. Os manifestantes que derrubaram a estátua participavam da "anti-celebração" do Descobrimento da América, comemorado na terça-feira. A data foi criada em 2002 pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, e é chamada de Dia da Resistência. Chávez institiuiu o feriado como uma comemoração da resistência dos povos indígenas do continente americano. http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/bbc/1769001-1769500/1769035/1769035_ 1.xml "Não há precursores; existem apenas retardatários." Jean Cocteau ========================================================================== ---------------------------------------------------------- Grupo de Analistas Legislativos da Câmara dos Deputados ? Atribuição Técnica Legislativa ? empossados a partir de 17/01/02. E-mail: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Site: //www.freelists.org/list/analistas2002 ---------------------------------------------------------- ******* N E F E L I B A T A ******* Datação 1899 cf. CF1 Acepções => adjetivo e substantivo de dois gêneros 1 que ou quem vive nas nuvens 2 Derivação: sentido figurado. Uso: pejorativo. que ou o que não obedece às regras literárias (diz-se de escritor) 3 Derivação: sentido figurado, por extensão de sentido. Uso: pejorativo. que ou quem é muito idealista, vive fugindo da realidade Etimologia nefel(i/o)- + -bata; f.hist. 1899 nephelibata Sinônimos nefelíbata; ver sinonímia de empolado e pensativo ===========================================================================