À propósito, quem será o sujeito oculto do mensalão denunciado pelo ex-Deputado Roberto Jefferson? Fátima. 2009/12/1 Isabele Machado de Carvalho <bele74@xxxxxxxxx> > OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA > Cobertura do *CB* tem sujeito oculto > > Por Chico Sant´Anna em 1/12/2009 > Observatório da Imprensa > > Desde os primeiros anos do ensino fundamental, os estudantes aprendem que > as orações poderão ter sujeito oculto. A oração com sujeito oculto é aquela > em que o sujeito da ação não está explícito e sua identificação só é > possível graças à pessoa do verbo. > > Também é nos primeiros anos do ensino de Jornalismo que o futuro > profissional aprende que o sujeito do fato é elemento fundamental da redação > jornalística para a devida compreensão dos acontecimentos pelos consumidores > de informação. É na faculdade que se aprende a famosa pirâmide invertida, > pela qual o repórter deve responder a seis perguntas básicas ainda nas > primeiras linhas do seu texto. Quem?, O quê?, Quando?, Onde?, Como? e Por > quê? > > Na cobertura do recente escândalo de corrupção verificado no âmbito do > governo do Distrito Federal, apelidado pela imprensa de "mensalão do DEM", > pelo qual o governador do Distrito Federal e pessoas bem próximas a ele são > suspeitas de desviar R$ 60 milhões, o *Correio Braziliense*, principal > diário da Capital Federal – com uma tiragem estimada em mais de 200 mil > exemplares – parece ter preferido seguir as normas das escolas fundamentais > do que as rotinas jornalísticas. No escândalo da Caixa de Pandora, Arruda > virou sujeito oculto. > * > > Nome só aparece na 33ª linha > * > > As denúncias, sob apuração da Polícia Federal, Ministério Público Federal e > Superior Tribunal de Justiça, apontam para José Roberto Arruda, único > governador de estado dos Democratas, como líder de um esquema de corrupção > que coletava dinheiro junto às empresas fornecedoras do governo do Distrito > Federal (GDF) para ser repartido entre membros da base aliada na Câmara > Distrital. > > A documentação divulgada pela justiça seria inequívoca: o acórdão do STJ > afirma que Arruda teria sido gravado por um auxiliar quinta coluna > orientando sobre como fazer a partilha das propinas arrecadadas. Entretanto, > nas páginas do *Correio Braziliense* de sábado (28/11), Arruda vira > sujeito oculto e o leitor do jornal fica sem saber exatamente o que > aconteceu. Na chamada de capa, o *Correio* estampa: "GDF e Distritais são > alvo de investigação". > > Com esta manchete, o *Correio* não só esconde quem supostamente seria o > comandante do esquema de corrupção, bem como os beneficiários, como também > dilui a responsabilidade por toda a estrutura do GDF e do parlamento local > de Brasília. O governo do Distrito Federal possui dezenas de secretarias e > 174 mil servidores. Por sua vez, a Câmara Distrital possui 24 parlamentares. > Estariam todos eles envolvidos e sob suspeição policial? Quem lê a chamada > de capa do *Correio* subentende que sim, que todo mundo está envolvido no > "mensalão do DEM"*, *quando na verdade as investigações alcançam dez > pessoas: Arruda, seu assessor de imprensa, seu chefe de gabinete, o chefe do > gabinete civil, os secretários de educação e de relações institucionais > (este, responsável pela delação) e quatro parlamentares distritais. > > O assunto volta a ser tema na capa e em mais duas páginas internas do > caderno "Cidades". Quatro repórteres foram escalados para fazer a cobertura. > O nome do governador Arruda só aparece na 33ª linha, na segunda coluna do > texto. Diz o texto: "Durval gravou, em 21 de outubro deste ano, uma conversa > com o governador José Roberto Arruda, sobre o destino de R$ 400 mil em poder > do então secretário." > * > > Autor de ação moralizadora > * > > O texto se recusa a informar que o governador é o alvo central da operação > Caixa de Pandora comandada pelo Ministério Público Federal com autorização > do Superior Tribunal de Justiça. Entretanto, o foco das investigações, > segundo o *Correio*, são pessoas jurídicas e não físicas. Pela ordem: a > Câmara Distrital, o governo do Distrito Federal e o Tribunal de Contas do > DF, quando na verdade o alvo dos 29 mandatos de busca e apreensão são as dez > pessoas citadas anteriormente. > > O noticiário é rico em fotos, oito ao todo, mas todas no caderno "Cidades" > e nenhuma na capa do jornal. Arruda também não aparece em nenhuma delas. Nem > mesmo numa foto de arquivo. Talvez o *Correio Braziliense *não tivesse > nenhuma no departamento fotográfico. Mas o arquivo fotográfico foi pródigo > em localizar uma foto datada de 09/01/2003, na qual aparecem lado a lado o > ex-governador Joaquim Roriz, desafeto de Arruda, e Durval Barbosa, > secretário de Relações Institucionais do governador do Democratas e > responsável pelas denúncias e gravações secretas. Na legenda da foto, que > ocupa quase que um quarto de página, o *Correio* alerta aos leitores que > Barbosa atuou como presidente da Companhia de Desenvolvimento do Planalto na > gestão Roriz e que nesta condição foi condenado por improbidade. > > Nas páginas do *Correio Braziliense*, o governador Arruda só vai deixar de > ser sujeito oculto numa matéria onde ele aparece como autor de uma ação > moralizadora, ao determinar o afastamento dos integrantes do primeiro > escalão de seu governo citados no suposto esquema de pagamento de propinas. > * > > A "rádio corredor" > * > > É bastante curiosa esta técnica de cobertura do *Correio Braziliense *que > subtrai o sujeito da ação, deixando-o oculto, e torna difuso o envolvimento > dos suspeitos. Que paradigmas jornalísticos devem nortear tal técnica > profissional, quando sabemos que o *CB* tem por hábito fazer denúncias bem > explícitas contra o governo federal e o Congresso Nacional? A forte presença > publicitária do GDF nas páginas do *Correio* teria algum efeito > anestesiante? > > A chamada "rádio corredor" da imprensa brasiliense alerta que haveria um > acordo entre o GDF e o principal jornal da capital para que não se fale mal > do governador. É difícil dizer se a "rádio corredor" está bem informada – > possivelmente, não –, mas o comportamento editorial do jornal, que almeja > ser um referencial da imprensa nacional, no principal escândalo > político-policial dos últimos anos na cidade deixa a desejar. O > *Correio*parece não respeitar o famoso contrato entre imprensa e leitor que o > obriga > a trazer a verdade e toda a verdade sobre os fatos. Tudo que o ele deixou de > escrever foi fartamente divulgado pela imprensa local e nacional e até pelos > portais de assessoria de imprensa da justiça. A postura do *CB* revela que > o seu leitor deve ligar seu desconfiômetro ao lê-lo, pois no mínimo ele > estará correndo o risco de não estar recebendo a totalidade dos fatos, quiçá > de estar sendo deliberadamente enganado. > >