[CamaraDas] Cobertura do CB tem sujeito oculto

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  • Date: Tue, 1 Dec 2009 16:44:31 -0200

  OPERAÇÃO CAIXA DE PANDORA
Cobertura do *CB* tem sujeito oculto

Por Chico Sant´Anna em 1/12/2009
Observatório da Imprensa

Desde os primeiros anos do ensino fundamental, os estudantes aprendem que as
orações poderão ter sujeito oculto. A oração com sujeito oculto é aquela em
que o sujeito da ação não está explícito e sua identificação só é possível
graças à pessoa do verbo.

Também é nos primeiros anos do ensino de Jornalismo que o futuro
profissional aprende que o sujeito do fato é elemento fundamental da redação
jornalística para a devida compreensão dos acontecimentos pelos consumidores
de informação. É na faculdade que se aprende a famosa pirâmide invertida,
pela qual o repórter deve responder a seis perguntas básicas ainda nas
primeiras linhas do seu texto. Quem?, O quê?, Quando?, Onde?, Como? e Por
quê?

Na cobertura do recente escândalo de corrupção verificado no âmbito do
governo do Distrito Federal, apelidado pela imprensa de "mensalão do DEM",
pelo qual o governador do Distrito Federal e pessoas bem próximas a ele são
suspeitas de desviar R$ 60 milhões, o *Correio Braziliense*, principal
diário da Capital Federal – com uma tiragem estimada em mais de 200 mil
exemplares – parece ter preferido seguir as normas das escolas fundamentais
do que as rotinas jornalísticas. No escândalo da Caixa de Pandora, Arruda
virou sujeito oculto.
*

Nome só aparece na 33ª linha
*

As denúncias, sob apuração da Polícia Federal, Ministério Público Federal e
Superior Tribunal de Justiça, apontam para José Roberto Arruda, único
governador de estado dos Democratas, como líder de um esquema de corrupção
que coletava dinheiro junto às empresas fornecedoras do governo do Distrito
Federal (GDF) para ser repartido entre membros da base aliada na Câmara
Distrital.

A documentação divulgada pela justiça seria inequívoca: o acórdão do STJ
afirma que Arruda teria sido gravado por um auxiliar quinta coluna
orientando sobre como fazer a partilha das propinas arrecadadas. Entretanto,
nas páginas do *Correio Braziliense* de sábado (28/11), Arruda vira sujeito
oculto e o leitor do jornal fica sem saber exatamente o que aconteceu. Na
chamada de capa, o *Correio* estampa: "GDF e Distritais são alvo de
investigação".

Com esta manchete, o *Correio* não só esconde quem supostamente seria o
comandante do esquema de corrupção, bem como os beneficiários, como também
dilui a responsabilidade por toda a estrutura do GDF e do parlamento local
de Brasília. O governo do Distrito Federal possui dezenas de secretarias e
174 mil servidores. Por sua vez, a Câmara Distrital possui 24 parlamentares.
Estariam todos eles envolvidos e sob suspeição policial? Quem lê a chamada
de capa do *Correio* subentende que sim, que todo mundo está envolvido no
"mensalão do DEM"*, *quando na verdade as investigações alcançam dez
pessoas: Arruda, seu assessor de imprensa, seu chefe de gabinete, o chefe do
gabinete civil, os secretários de educação e de relações institucionais
(este, responsável pela delação) e quatro parlamentares distritais.

O assunto volta a ser tema na capa e em mais duas páginas internas do
caderno "Cidades". Quatro repórteres foram escalados para fazer a cobertura.
O nome do governador Arruda só aparece na 33ª linha, na segunda coluna do
texto. Diz o texto: "Durval gravou, em 21 de outubro deste ano, uma conversa
com o governador José Roberto Arruda, sobre o destino de R$ 400 mil em poder
do então secretário."
*

Autor de ação moralizadora
*

O texto se recusa a informar que o governador é o alvo central da operação
Caixa de Pandora comandada pelo Ministério Público Federal com autorização
do Superior Tribunal de Justiça. Entretanto, o foco das investigações,
segundo o *Correio*, são pessoas jurídicas e não físicas. Pela ordem: a
Câmara Distrital, o governo do Distrito Federal e o Tribunal de Contas do
DF, quando na verdade o alvo dos 29 mandatos de busca e apreensão são as dez
pessoas citadas anteriormente.

O noticiário é rico em fotos, oito ao todo, mas todas no caderno "Cidades" e
nenhuma na capa do jornal. Arruda também não aparece em nenhuma delas. Nem
mesmo numa foto de arquivo. Talvez o *Correio Braziliense *não tivesse
nenhuma no departamento fotográfico. Mas o arquivo fotográfico foi pródigo
em localizar uma foto datada de 09/01/2003, na qual aparecem lado a lado o
ex-governador Joaquim Roriz, desafeto de Arruda, e Durval Barbosa,
secretário de Relações Institucionais do governador do Democratas e
responsável pelas denúncias e gravações secretas. Na legenda da foto, que
ocupa quase que um quarto de página, o *Correio* alerta aos leitores que
Barbosa atuou como presidente da Companhia de Desenvolvimento do Planalto na
gestão Roriz e que nesta condição foi condenado por improbidade.

Nas páginas do *Correio Braziliense*, o governador Arruda só vai deixar de
ser sujeito oculto numa matéria onde ele aparece como autor de uma ação
moralizadora, ao determinar o afastamento dos integrantes do primeiro
escalão de seu governo citados no suposto esquema de pagamento de propinas.
*

A "rádio corredor"
*

É bastante curiosa esta técnica de cobertura do *Correio Braziliense *que
subtrai o sujeito da ação, deixando-o oculto, e torna difuso o envolvimento
dos suspeitos. Que paradigmas jornalísticos devem nortear tal técnica
profissional, quando sabemos que o *CB* tem por hábito fazer denúncias bem
explícitas contra o governo federal e o Congresso Nacional? A forte presença
publicitária do GDF nas páginas do *Correio* teria algum efeito
anestesiante?

A chamada "rádio corredor" da imprensa brasiliense alerta que haveria um
acordo entre o GDF e o principal jornal da capital para que não se fale mal
do governador. É difícil dizer se a "rádio corredor" está bem informada –
possivelmente, não –, mas o comportamento editorial do jornal, que almeja
ser um referencial da imprensa nacional, no principal escândalo
político-policial dos últimos anos na cidade deixa a desejar. O
*Correio*parece não respeitar o famoso contrato entre imprensa e
leitor que o obriga
a trazer a verdade e toda a verdade sobre os fatos. Tudo que o ele deixou de
escrever foi fartamente divulgado pela imprensa local e nacional e até pelos
portais de assessoria de imprensa da justiça. A postura do *CB* revela que o
seu leitor deve ligar seu desconfiômetro ao lê-lo, pois no mínimo ele estará
correndo o risco de não estar recebendo a totalidade dos fatos, quiçá de
estar sendo deliberadamente enganado.

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