> Cássia Eller > Laudo aponta erro médico > Ricardo Miranda > Do Correio Braziliense > > > 27/10/2004 > 07h16 - RIO - Cássia Eller não morreu: nem a artista, para os fãs da mais > vigorosa cantora do rock brasileiro; nem as circunstâncias rumorosas em > que partiu, em 29 de dezembro de 2001. Dois anos e dez meses depois de > Cássia morrer na Casa de Saúde Santa Maria, em Laranjeiras, na zona Sul do > Rio de Janeiro, o Ministério Público Estadual denunciou erro médico no seu > tratamento. Um laudo pericial divulgado na terça, feito por uma equipe de > médicos e farmacêuticos reunidos pelos promotores, afirma que o > atendimento dado a Cássia foi contra-indicado para tratar qualquer > paciente que pudesse ter feito eventual uso de álcool ou de outra droga. O > MP pediu ao promotor Alexandre Themistocles, da 6ªPromotoria de > Investigação Criminal, que indicie os médicos responsáveis por crime de > homicídio culposo, com pena de até três anos de cadeia. O hospital já > informou que vai pedir uma perícia independente. > > ''A não utilização da terapêutica adequada trouxe ao menos uma diminuição > das chances de recuperação da paciente'', informa o laudo do MP, ''ficando > demonstrada a falta do tratamento adequado devido à vítima por parte dos > profissionais médicos que a atenderam quando da admissão no hospital onde > faleceu.'' O primeiro erro dos médicos, segundo o parecer, foi não terem > feito uma lavagem gástrica imediata, ''apesar de haver relato de álcool e > provável ingestão de cocaína (...) para impedir que as substâncias tóxicas > continuassem a ser absorvidas pelo organismo''. > > Além dos sintomas com que chegou ao hospital - náuseas, vertigens, > desidratação, agitação psicomotora e confusão mental -, havia o relato das > percussionistas Elaine Silva Moreira, a Lan Lan, e Thamyma Brasil, que a > levaram ao hospital e disseram aos médicos que ela provavelmente havia > bebido e cheirado cocaína desde a noite anterior. A lavagem só foi feita > depois de seu encaminhamento ao CTI (Centro de Tratamento Intensivo), logo > após a primeira parada cardiorrespiratória. A essa altura, diz o laudo, > uma diálise poderia salvá-la, o que também não foi feito. > > Como aconteceu > Segundo o laudo do MP, os médicos não apenas deixaram de usar os > medicamentos adequados como, mais grave ainda, aplicaram os errados. O > laudo afirma que não houve a utilização de sedativos que seriam indicados, > como o Diazepam (benzodiazepínico), apesar de a paciente pedir por > sedação. Em seu lugar, Cássia foi medicada com Plasil (metoclorpramida). > Segundo o laudo, o medicamento, que foi injetado na veia, ''pode acelerar > a absorção de qualquer droga presente no organismo.'' Houve, então, a > utilização de adrenalina e atropina, igualmente contra-indicadas nos casos > de infarto com utilização de álcool ou cocaína. Meia hora depois da > aplicação de Plasil, Cássia estava morta. Laudo do hospital: ''Infarto > agudo do miocárdio.'' > > ''Os médicos no Brasil trabalham às cegas nos hospitais e acabam chutando > com o que é mais comum'', aponta a farmacêutica Eliani Spinelli, que fez > parte da equipe que elaborou o laudo. ''Tudo isso é a verdade, houve > claramente negligência por despreparo médico. Tinham que ter verificado na > hora, pela urina, a presença de cocaína, e fazer uma lavagem gástrica. E > depois entrar com uma medicação antídoto para cortar os efeitos, e não > para piorar seu estado. Ela morreu em sofrimento'', lamenta o diretor do > Centro de Toxicologia de Brasília, o toxicologista Otávio Brasil. > > A reviravolta no caso ocorre um ano depois de o próprio Ministério Público > ter pedido o arquivamento do inquérito. Na época, o juiz Joaquim Domingos > de Almeida Neto, da 29ªVara Criminal, negou o arquivamento e determinou > uma investigação mais profunda. O novo parecer do MP, assinado pelos > promotores Fernando Chaves e Flávia Ferrer, da assessoria criminal do MP, > com o aval do procurador-geral em exercício, Celso Fernando de Barros, > muda os rumos do processo e abre caminho para a família de Cássia Eller > entrar com uma ação civil pedindo à Casa de Saúde Santa Maria indenização > pelos danos causados. > > ''Sempre soubemos que a alegação da clínica, de que Cássia teria tido uma > overdose, não era verdadeira. Agora o laudo comprova que houve erro > médico'', diz Marcos André Campuzano, advogado de Maria Eugênia Martins, > companheira da cantora. ''O mau atendimento na clínica ceifou a vida de > uma artista que estava no auge e que ainda teria muito sucesso.'' A eterna > garotinha Cássia morreu aos 39 anos deixando seus fãs saudosos e, agora, > indignados. > > Entenda o caso > Na época da morte, o laudo foi inconclusivo sobre causa de parada cardíaca > > * No dia 29 de dezembro de 2001, a cantora Cássia Eller morre na clínica > Santa Maria, em Laranjeiras (zona sul do Rio), após sofrer quatro paradas > cardíacas. Ela tinha 39 anos e havia sido internada horas antes. Amigas > dizem que a artista tinha bebido cerveja e poderia ter usado cocaína. A > polícia registra o caso como morte suspeita > * O corpo da cantora é necropsiado. O exame revela que Eller não tinha > doença aparente nem lesão externa que pudessem ter provocado as paradas > cardíacas > > * A polícia passa a investigar a possibilidade de a morte ter sido > provocada pelo medicamento Plasil, que Cássia recebeu na clínica. O > fabricante do Plasil afirma que não havia registro de parada cardíaca > provocada pelo remédio. A clínica nega que tenha havido erro médico > > * Os exames toxicológicos feitos pelo Instituto Médico Legal não > encontraram drogas nem álcool no sangue, vísceras ou urina da cantora > > * O laudo final do IML indica que Eller morreu em conseqüência de um > infarto seguido de quatro paradas cardiorrespiratórias. Os peritos afirmam > não ter elementos técnicos suficientes para determinar o que provocou a > primeira parada cardiorrespiratória > > * No dia 1º de fevereiro de 2002, a Polícia Civil encerra as investigações > > > * O Ministério Público arquiva o caso, mas a Justiça recusa e o devolve > aos promotores > > * Uma nova perícia feita pelo Ministério Público Estadual provoca uma > reviravolta no caso. O laudo do Ministério Público, revelado ontem, indica > que a morte de Cássia foi provocada pelo medicamento Plasil, que seria > contra-indicado para usuários de álcool ou outro tipo de drogas > > * A assessoria criminal do Ministério Público recomenda que os médicos que > atenderam a cantora sejam denunciados por homicídio culposo > "Nobody can give you freedom. Nobody can give you equality or justice or anything. If you're a man, you take it." Malcolm X, Malcolm X Speaks, 1965 ---------------------------------------------------------- Grupo de Analistas Legislativos da Câmara dos Deputados ? Atribuição Técnica Legislativa ? empossados a partir de 17/01/02. E-mail: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Site: //www.freelists.org/list/analistas2002 ----------------------------------------------------------