Essas informações são isso mesmo? >From: >Date: Mon, 25 Oct 2004 19:44:27 -0200 Titulo: Quem paga as indenizações Editorial - O Estado de São Paulo Desde a criação da Comissão de Anistia no Ministério da Justiça, em 2001, 5.540 brasileiros perseguidos na ditadura militar e beneficiados pela Lei da Anistia, vigente há 25 anos, foram indenizados pelo Estado brasileiro, por decisão desta comissão. Agora, 45 mereceram tratamento diferenciado, ganhando, em portarias recém-publicadas no Diário Oficial, o direito de receber indenizações milionárias compensatórias para os eventuais prejuízos que lhes tenham sido impingidos pelas autoridades daquele período histórico. A palavra milionária aqui não está sendo usada num sentido vago ou metafórico, mas aritmético: além de mensalidades altas - a maioria acima de R$ 10 mil -, esse seleto grupo assegurou para seus componentes indenizações retroativas superiores a R$ 1 milhão. Até 23 de julho passado, as três câmaras dessa Comissão de Anistia julgaram 14.466 casos e decidiram mandar o governo desembolsar R$ 1,4 bilhão em indenizações e mais R$ 267 milhões em pensões pagas mensalmente. Faltam ser julgados 13.800 processos. Dos 5.540 aprovados, 3.887 são de militares, 932 de servidores de estatais e 721 de funcionários de empresas privadas e militantes políticos vítimas de repressão e que combateram a ditadura militar. Eis aí o mais recente exemplo da absoluta (e, no caso, absurda) falta de critérios com que nossos legisladores dispõem sobre os recursos arrecadados pelo Estado, mercê de uma carga tributária escorchante e onerosa sobre os escassos resultados da produção nacional. E também uma evidência de como erros cometidos no passado continuam repercutindo na vida da Nação, comprometendo o sacrifício imposto à sociedade para a construção de um futuro mais digno para as futuras gerações de brasileiros e reproduzindo as mesmas situações de injustiça e desigualdade de sempre. Ao defender o trabalho da comissão, que preside, o advogado e ex-presidente da OAB Marcelo Lavenère explicou que a diferença abissal entre as indenizações pagas à elite e as pensões definidas para pessoas sem posses resultam de um equívoco consagrado pela lei. "Se o pobre diabo perseguido era um gari, ele vai receber o equivalente a isso. Agora, se era um diplomata, um piloto de Boeing ou um jornalista de boa pena, o valor vai ser outro. Está na lei", disse. Ou seja: o cálculo, feito sobre o prejuízo que a vítima eventual presume ter tido, consagra injustiças em nome de conceitos politicamente corretos de justiça. Do seleto clube dos novos 45 pensionistas milionários da bolsa da viúva, a grande maioria (35) é de funcionários da Petrobrás, empresa estatal que já paga salários acima da média do mercado. Esses brasileiros, pretensamente injustiçados na ditadura, cobram, embora sejam privilegiados membros da minoria empregada e bem remunerada, reparação de milhões de brasileiros que a bancam, mesmo tendo dificuldade para arranjar um emprego com salário digno. O caso paradigmático protagonizado pelo jornalista e escritor Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras, define essa situação esdrúxula. Ele foi editorialista do Correio da Manhã, jornal cuja falência é atribuída à pressão do regime discricionário. De 1965, data da perseguição de que o acadêmico se diz vítima, para cá não consta que ele tenha passado necessidade, uma vez que esteve sempre bem empregado e tenha merecido notório reconhecimento social. Mas sua renda, que na certa modesta não é, será acrescida de uma indenização de R$ 1,4 milhão. Ele ainda teria direito a receber R$ 23.187,90 por mês, mas o valor será de fato de R$ 19.115,19, teto salarial do funcionalismo federal, correspondente ao salário de um ministro do STF. Outro exemplo dos extremos surrealistas a que pode levar o uso estróina do dinheiro público para reparar a mauvaise conscience do establishment político nacional foi dado pelo pedido de reparação da imagem do ex-presidente João Goulart, feito por sua viúva, Maria Thereza, ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ela considera os R$ 8.800 (34 salários mínimos) da pensão (equivalente ao salário integral do cidadão no exercício da Presidência) que recebe insuficientes para sustentar o padrão de vida ao qual está habituada - como se seu marido tivesse morrido pobre - e resolveu pedir equiparação à pensão de Cony. Difícil será negar-lhe razão: afinal, terá seu marido sido menos prejudicado pela ditadura que o acadêmico? <<...OLE_Obj...>> "Nobody can give you freedom. Nobody can give you equality or justice or anything. If you're a man, you take it." Malcolm X, Malcolm X Speaks, 1965 ---------------------------------------------------------- Grupo de Analistas Legislativos da Câmara dos Deputados ? Atribuição Técnica Legislativa ? empossados a partir de 17/01/02. E-mail: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx Site: //www.freelists.org/list/analistas2002 ----------------------------------------------------------