[CamaraDas] FW: Guerra premeditada pelos EUA

  • From: Lúcio Flávio de Castro Dias <luciodias@xxxxxxx>
  • To: "analistas2002@xxxxxxxxxxxxx" <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Tue, 19 May 2015 15:32:39 +0000



Invasão do
Iraque não foi avaliação errada, foi um crime premeditado

Paul Krugman


Surpresa! Parece que há algo de positivo em o irmão de um presidente
fracassado tentar conquistar a Casa Branca. Graças a Jeb Bush,
podemos enfim ter a discussão franca sobre a invasão do Iraque que deveríamos
ter realizado uma década atrás.

Mas muita gente influente –não só Bush– preferiria que não tivéssemos
essa discussão. Existe um senso palpável, agora, de que a elite política e da
mídia está tentando encerrar o assunto. Sim, diz a narrativa que eles propõem,
hoje sabemos que invadir o Iraque foi um imenso erro, e é hora de que todos
admitam o fato. Agora, sigamos em frente.

Bem, prefiro não seguir –porque essa é uma narrativa falsa, e todos que
estiveram envolvidos no debate sobre a guerra sabem que ela é falsa. A guerra
do Iraque não foi um erro inocente, uma empreitada encetada com base em
informações que se provaram incorretas. Os Estados Unidos invadiram o Iraque
porque o governo Bush queria uma guerra. As justificativas públicas para a
invasão eram nada mais que pretextos –e pretextos forjados, aliás. Fomos
conduzidos à guerra, essencialmente, por uma série de mentiras.

O fato de que os argumentos em favor da guerra fossem fraudulentos era
evidente já então. O uso de diferentes sustentações para justificar um objetivo
imutável era prova suficiente. Os jogos de palavras empregados idem –a conversa
sobre armas de destruição em massa que misturava armas químicas (que muita
gente acreditava Saddam Hussein tivesse) a armas nucleares, as constantes
insinuações de que de alguma forma o Iraque esteve por trás do 11 de setembro.

E a esta altura temos provas abundantes para confirmar tudo que os
oponentes da guerra estavam dizendo. Sabemos, por exemplo, que já no 11 de
setembro –literalmente antes que a poeira se assentasse–, o então secretário da
Defesa Donald Rumsfeld estava conspirando para lançar uma guerra contra um
regime
que nada teve a ver com os ataques terroristas. "Determinar se isso basta
para atacar S. H. (Saddam Hussein) –juntar todas as coisas, relacionadas ou
não", dizem as anotações de um assessor de Rumsfeld sobre uma reunião.

Tratava-se, em resumo, de uma guerra que a Casa Branca queria, e todos
os supostos erros que, nas palavras de Jeb Bush, "foram cometidos"
por alguém que ele não cita derivaram diretamente desse desejo subjacente. As
agências de inteligência concluíram erroneamente que o Iraque tinha um programa
de armas químicas e nucleares? Isso aconteceu porque elas estavam sob forte
pressão para justificar uma guerra. As avaliações realizadas antes da guerra
subestimaram imensamente as dificuldades e o custo da ocupação? Isso aconteceu
porque os partidários da guerra não queriam ouvir coisa alguma que pudesse
lançar dúvidas sobre a pressa de invadir. De fato, o chefe de Estado-Maior do
exército terminou, para todos os efeitos, demitido, por questionar afirmações
de que a fase de ocupação seria fácil e barata.

Por que eles desejavam uma guerra? Essa é uma questão mais difícil de
responder. Alguns dos proponentes da guerra acreditavam que usar as técnicas
militares de "choque e intimidação" contra o Iraque reforçaria o
poder e a influência dos Estados Unidos no planeta. Alguns viam a guerra no
Iraque como uma espécie de projeto piloto, um preparativo para diversas
mudanças de regime. E difícil evitar suspeitas de que tenha havido um forte
elemento de "o rabo balançando o cachorro", ou seja, de usar o triunfo
militar como forma de reforçar a posição do Partido Republicano no país.

Quaisquer que tenham sido os motivos exatos, o resultado foi um capítulo
muito sombrio na história dos Estados Unidos.

Bem, é possível compreender por que tantas figuras políticas e da mídia
prefeririam não falar sobre nada disso. Algumas delas, suponho, podem ter se
deixado iludir, podem ter acreditado nas mentiras óbvias, o que não testemunha
em favor de sua capacidade de julgamento. Outras, suspeito, eram cúmplices:
perceberam que os argumentos oficiais em favor da guerra eram um pretexto, mas
tinham motivos próprios para querer uma guerra, ou se permitiram intimidar e
acompanharam a maré. Pois havia um clima claro de medo entre os políticos e os
sabichões, em 2002 e 2003, um período no qual criticar a campanha em favor da
guerra parecia ser a porta de saída de suas carreiras.

Além desses motivos pessoais, nossa mídia noticiosa enfrenta problemas
para lidar com a desonestidade de políticos, usualmente. Os repórteres relutam
em denunciar as mentiras dos políticos, mesmo sobre assuntos cotidianos como os
números do orçamento, por medo de mostrar parcialidade partidária. Na verdade,
quanto maior a mentira, quanto mais claro o envolvimento e importantes figuras
políticas em fraudes descaradas, mais hesitantes são as reportagens. E há pouca
coisa mais séria –de fato, quase criminosa– do que levar os Estados Unidos a
uma guerra por meio de mentiras.

Mas a verdade importa, e não só porque as pessoas que se recusam a
aprender com a História estão de alguma forma condenadas a repeti-las. A
campanha de mentiras que nos conduziu ao Iraque é suficientemente recente para
que os indivíduos culpados possam ser responsabilizados. Não importam os
tropeços verbais de Jeb Bush. Pense em sua equipe de política externa, liderada
por pessoas diretamente envolvidas em criar um falso argumento em favor da
guerra.

Assim, é preciso que nossa história quanto ao Iraque seja a certa. Sim,
do ponto de vista nacional, a invasão foi um erro. Mas (com minhas desculpas a
Talleyrand), ela foi pior que um erro: foi um crime.




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