Conservadorismo Enciclopédia Barsa Ser conservador significa acreditar que a sociedade, por ser um organismo muito complexo, formado de múltiplos elementos que se inter-relacionam para proporcionar bem-estar a seus membros, deve evoluir vagarosamente, evitando rupturas e revoluções. Conservadorismo é a tendência política que se caracteriza pela deliberação de manter inalterada a ordem econômica, social e política vigente. Inclina-se a cristalizar as tradições e instituições que se afirmaram pela experiência e a só aceitar mudanças superficiais, graduais e pouco freqüentes. Assim, não constitui propriamente uma proposta política, mas sim uma reação às transformações e revoluções. O termo conservadorismo se aplica também às filosofias que atribuem a essa tendência um corpo ideológico. A continuidade é, por isso, um valor importante; qualquer mudança deve ser cuidadosamente avaliada e só incorporada se acarretar um mínimo de efeitos secundários. Sensíveis às incongruências entre teoria e prática, os conservadores afirmam que uma idéia teoricamente justa pode ser inadequada e até mesmo nociva se posta em prática. Do ponto de vista conservador, o governante deve tomar com cuidado os arroubos de transformação que muitas vezes são sugeridos para os negócios práticos do Estado e deixar-se guiar por precedentes e exemplos que já funcionaram a contento no passado. Os conservadores rejeitam as iniciativas de caráter liberal e mantêm forte respeito por instituições tradicionais, como a família e a propriedade privada. Por princípio, são adversários das mudanças súbitas e das inovações e tendem a aceitar as imperfeições do ser humano como realidades inerentes a sua natureza, em vez de contar com a possibilidade de reconstrução e aperfeiçoamento. Edmond Burke foi, entre os pensadores modernos, um dos primeiros a sistematizar as idéias do conservadorismo. Em _Reflexos sobre a revolução na França_, de 1790, tachou os ativistas franceses de “teoricistas”, “metafísicos” e “especuladores”, por causa de sua preocupação com teorias e idéias, que os teria levado a subestimar a complexidade do governo e a dificuldade de implementar mudanças de longo alcance. Burke não negava, em princípio, os direitos defendidos pelos revolucionários, que seriam metafisicamente corretos mas moral e politicamente falsos. Para ele, os direitos das pessoas estão mais bem assegurados quando o Estado funciona plenamente, o que depende da sabedoria de seus dirigentes. Burke defendia um governo fundado não nos direitos humanos, mas no atendimento das necessidades de seus membros. Na França, o principal porta-voz do conservadorismo durante o século XIX foi Joseph de Maistre, que combateu a ideologia liberal e tornou-se apologista do _ancien régime_. Nos Estados Unidos, os federalistas como John Adams, Alexander Hamilton, James Madison e John Jay guiaram-se por princípios conservadores, mas a divisão radical dos políticos em conservadores e progressistas deu-se apenas em 1828. No século XX, a palavra conservadorismo adquiriu conotação pejorativa e passou a sinônimo de reacionarismo, ou oposição ao progresso. Por essa razão, muitos partidos políticos abandonaram essa denominação, o que não significou o fim do conservadorismo, mas o mascaramento dessa tendência em siglas e instituições que, com outros nomes, opõem-se vivamente às mudanças sociais, rejeitam a marcha da História e defendem um poder político imune à flutuação das opiniões. Esta página faz parte do sítio Pausa para a Filosofia.