[CamaraDas] Tutty Vasques

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  • Date: Wed, 11 Apr 2007 16:32:26 -0300

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Da piada à piedade

07.04.2007 |  Não sei pra que bandas vocês têm andado, mas onde passo
as conversas sobre caos aéreo, milésimo gol, Preta Gil e Gianecchini
lá pelas tantas mudam abruptamente de direção, convergindo sempre para
o mesmo assunto: "E o rabino, hein, rapaz, que coisa!" Daí para frente
segue-se um ritual que vai do sentimento de piedade que Henry Sobel
inspira em todos nós, homens de bem, até gargalhadas impiedosas com as
piadas que o ocorrido em Palm Beach desencadeou em série avassaladora.
Todo mundo tem uma pra contar. Sabe aquela que associa roubo de
gravatas aos crimes do colarinho branco? E aquela outra sobre entregar
o rabinato depois de pego em flagrante?

Não tem jeito: sempre que uma desgraça ou infortúnio se abate sobre
alguém importante, respeitável e exemplar, o brasileiro vive essa
esquizofrenia de rir e de chorar compulsivamente com a tragédia humana
inesperada. Pode ser só uma reação nervosa ou, talvez, não haja nada
muito estranho em sofrer sem perder o bom humor. Tancredo Neves e
Ayrton Senna, só para citar dois casos muito mais comoventes que o de
Henry Sobel, mergulharam o Brasil num mar de lágrimas e anedotas sem
precedentes. Ou não?

Daí a pensar que as piadas sobre Senna e Tancredo eram fruto de mentes
desinformadas sobre grandes personagens da História, francamente, isso
é coisa de gente que não sabe o que é humor. Piada não é coisa
reservada a sujeitos de maus antecedentes ou a cretinos de toda ordem.
Piada não é castigo, punição ou forra. As pessoas viram piada porque
se prestam a isso. Graça não é invenção de humorista, cujo maior
talento deve ser enxergar o engraçado para mostrar que nada é tão
sério que mereça nossa tristeza mórbida.

Num país onde qualquer safado de gravata vira herói depois de morto,
não é de se estranhar que os falsos moralistas estejam à solta para
exigir mais respeito com Henry Sobel. Como se piada fosse desrespeito.
Já disse que isso é coisa de gente que não sabe o que é humor, mas não
é só isso. Ao promover a defesa do que não é atacado – a honra, o
passado, a religiosidade e o humanismo do rabino –, a turma que anda
por aí se fingindo indignada com o que dizem à boca pequena sobre o
efeito colateral dos remédios contra insônia advoga a criação de um
tipo de casta imune a brincadeiras.

Se eu não posso fazer piada com quem lutou contra a ditadura nos anos
70, não devo brincar, por exemplo, com o presidente Lula, só para
citar um caso muito mais célebre de militância política do que o
companheiro Sobel. Se eu não posso fazer piada com alguém que
provavelmente esteja agindo sob efeito de remédios tarja preta,
cacilda!, vou perder também o Suplicy. Se eu não posso fazer piada com
judeus, nem o Gerald Thomas vou poder mais ridicularizar, caramba! Vai
chegar o dia em que só vão me restar as louras. Sabe a última da Hebe
Camargo?

Tenho lido coisas estarrecedoras a respeito da forma como devemos nos
comportar sobre essa história das gravatas em Palm Beach. O ator José
de Abreu jura que não encabeçou, como deu nos jornais, mas subscreveu
o manifesto que classifica o ocorrido com Henry Sobel como a prova
definitiva de que "todos somos humanos". Falta ainda explicar que
diabos quis dizer nessa entrevista ao site 'Ego': "Sem discutir o
mérito da questão, se ele roubou ou foram remédios que levaram ao ato,
não interessa! O importante é o que ele já fez pelo Brasil, inclusive
em função do comunismo no país." Como dizia Shakespeare, ter sido ou
não ter sido, eis a questão!

Outra que deu seu testemunho, Vera Fischer foi comovente: "Deslizes
podem acontecer com qualquer pessoa". Palavra de especialista. No caso
dela, talvez por ser loura e nada ter feito contra a ditadura, quando
acontece algo assim todo mundo pode brincar à vontade. Henry Sobel
também é louro e, apesar do corte chanel, nem com seu penteado
aceitam-se brincadeiras. Por muito menos, aliás, arruma-se briga com
Deus e o mundo. Dia desses achei que poderia ter alguma graça dizer
que "Maluf teria tomado uma overdose do remédio de Henry Sobel…" Pra
quê? O leitor Almir Ammari percebeu o seguinte nas minhas intenções:

"Tudo bem que o SR.MALUF tem problemas, mas justamente por ser de
origem árabe você o escolheu nesta hora contra um judeu? Lamentável.
Reflita melhor antes de qualquer comentário.
OBS: Não sou parente do SR. MALUF e nem o conheço."

Leitor, vocês estão carecas de saber disso, é assim mesmo: cada um
entende de um jeito e vamos em frente. Os que entendem a piada do
jeito que se pretende contar produzem outras, igualmente desprovidas
de preconceitos. Que mal pode haver nessa aqui, que me foi enviada por
Edilson Moura Pinto?

"Henry Sobel é o candidato ideal para presidente do Brasil em 2010. Já
provou, inclusive, que não sabe roubar."

Outro leitor, Esteban Vianna, me ajudou a tirar da cabeça as minhocas
do preconceito que movem uns e outros a pensar. O texto abaixo é dele
e explica perfeitamente por que tenho feito e vou continuar fazendo
humor com o caso Henry Sobel:

"Para além da religião monoteísta, do humanismo, do monte de
filósofos, artistas e cientistas, acho que a principal contribuição
dos judeus para a humanidade foi o humor – implacável,
auto-depreciativo, irônico e inteligente. O humor é parte indissolúvel
da identidade judaica."

Talvez não tenha nada a ver, mas me vem à cabeça a célebre resposta de
Seinfeld a um padre no confessionário. O humorista foi à igreja para
se queixar que um membro daquela congregação – péssimo contador de
piadas – tinha se convertido ao judaísmo só para poder contar, sem
culpas, piadas de judeus. O padre, intrigado, perguntou-lhe: "E isso o
ofende como judeu, meu filho?".

"Não, isso me ofende como humorista."

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