[CamaraDas] Re: ENC: O vendedor de palavras

  • From: "patricia kelly batista de andrade" <patriciakellyb@xxxxxxxxx>
  • To: analistas2002@xxxxxxxxxxxxx
  • Date: Thu, 1 Mar 2007 13:33:54 -0300

Muito boa! (risos)


Em 01/03/07, Lucio Flávio de Castro Dias <luciodias@xxxxxxx> escreveu:

:::: Grupo de Analistas Legislativos da CD - T.L. :::: Nefelibatas,
CamaraDas, Analistas 2002,3,4,5 :::: 
analistas2002@xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

*O vendedor de palavras*
Por Fábio Reynol
24 de janeiro de 2007

Ouviu dizer que o Brasil sofria de uma grave falta de palavras. Em um programa
de TV, viu uma escritora lamentando que não se liam livros nesta  terra,
por isso as palavras estavam em falta na praça. O mal tinha até nome  de
batismo, como qualquer doença grande, "indigência lexical".
Comerciante de tino que era, não perdeu tempo em ter uma idéia fantástica.
Pegou dicionário, mesa e cartolina e saiu ao mercado cavar espaço entre os
camelôs.
Entre uma banca de relógios e outra de lingerie instalou a sua: uma mesa,
o  dicionário e a cartolina na qual se lia: "Histriônico - apenas R$
0,50!".  Demorou quase quatro horas para que o primeiro de mais de
cinqüenta curiosos  parasse e perguntasse.
- O que o senhor está vendendo?
- Palavras, meu senhor. A promoção do dia é histriônico a cinqüenta
centavos  como diz a placa.
- O senhor não pode vender palavras. Elas não são suas. Palavras são de
todos.
- O senhor sabe o significado de histriônico?
- Não.
- Então o senhor não a tem. Não vendo algo que as pessoas já têm ou coisas
de que elas não precisem.
- Mas eu posso pegar essa palavra de graça no dicionário.
- O senhor tem dicionário em casa?
- Não. Mas eu poderia muito bem ir à biblioteca pública e consultar um.
- O senhor estava indo à biblioteca?
- Não. Na verdade, eu estou a caminho do supermercado.
- Então veio ao lugar certo. O senhor está para comprar o feijão e a
alface,  pode muito bem levar para casa uma palavra por apenas cinqüenta
centavos de  real!
- Eu não vou usar essa palavra. Vou pagar para depois esquecê-la?
- Se o senhor não comer a alface ela acaba apodrecendo na geladeira e terá
de jogá-la fora e o feijão caruncha.
- O que pretende com isso? Vai ficar rico vendendo palavras?
- O senhor conhece Nélida Piñon?
- Não.
- É uma escritora. Esta manhã, ela disse na televisão que o País sofre com
a  falta de palavras, pois os livros são muito pouco lidos por aqui.
- E por que o senhor não vende livros?
- Justamente por isso. As pessoas não compram as palavras no atacado,  portanto
eu as vendo no varejo.
- E o que as pessoas vão fazer com as palavras? Palavras são palavras, não
enchem barriga.
- A escritora também disse que cada palavra corresponde a um pensamento,
se  temos poucas palavras pensamos pouco. Se eu vender uma palavra por
dia,  trabalhando duzentos dias por ano, serão duzentos novos pensamentos
cem por  cento brasileiros. Isso sem contar os que furtam o meu produto.
são como  trombadinhas que saem correndo com os relógios do meu colega
aqui do lado.  Olhe aquela senhora com o carrinho de feira dobrando a
esquina, com aquela  carinha de dona-de-casa ela nunca me enganou, passou
por aqui  sorrateira,.olhou minha placa e deu um sorrisinho maroto se
mordendo de  curiosidade, mas nem parou para perguntar. Eu tenho certeza
de que ela tem  um dicionário em casa, assim que chegar lá, vai abri-lo e
me roubar a carga.  Suponho que para cada pessoa que se dispõe a comprar
uma palavra, pelo menos  cinco a roubarão, então eu provocarei mil
pensamentos novos em um ano de  trabalho.
- O senhor não acha muita pretensão? Pegar um...
- Jactância.
- Pegar um livro velho...
- Alfarrábio.
- O senhor me interrompe!
- Profaço.
- Está me enrolando, não é?
- Tergiversando.
- Quanta lenga-lenga...
- Ambages.
- Ambages?
- Pode ser também evasivas.
- Eu sou mesmo um banana para dar trela para gente como você!
- Pusilânime.
- O senhor é engraçadinho, não?
- Finalmente chegamos: histriônico!
- Adeus.
- Ei! Vai embora sem pagar?
- Tome seus cinqüenta centavos.
- São três reais e cinqüenta.
- Como é?
- Pelas minhas contas, são oito palavras novas que eu acabei de entregar  para
o senhor. Só histriônico estava na promoção, mas como o senhor se  mostrou
interessado, faço todas pelo mesmo preço.

 - Mas oito palavras seriam quatro reais, certo?
- É que quem leva ambages ganha uma evasiva, entende?
- Tem troco para cinco?

... "Só quem tenta o absurdo é que consegue realizar o impossível". Osmar
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