[Nefelibatas] Carta ao Presidente da CEF

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  • Date: Mon, 18 Oct 2004 15:11:57 -0300

Carta mandada ao Presidente da CEF. 
 


 

Brasília, 6 de outubro de 2004.

Senhor Presidente,

A indignação e tão somente a indignação me faz, neste momento, me reportar a V. Sa.

Como é sabido por todos, V. Sa tem origem na classe trabalhadora, a mesma classe trabalhadora que permitiu a sua condução à presidência de nossa empresa. Lembro-me como se fosse o momento de sua posse quando, juntos, nós trabalhadores festejamos a vitória de um companheiro que indicava a certeza de um amanhã mais ensolarado. Que nada, ledo engano meu e de boa parte daqueles que como eu foram iludidos ao acreditar que sua posse fosse um marco da decência, da retidão de princípios e das garantias de cidadania.

Ao que parece V. Sa negou suas origens, seus atos tornam ainda mais atual e veraz a afirmativa de que o poder corrompe até os ideais. Essa conclusão é óbvia para alguém que como V Sa. tem duas caras, administra com dois pesos e duas medidas, senão como explicar que quando é conveniente V. Sa se indigna com os métodos da Polícia Federal, que segundo suas próprias palavras, de modo arbitrário e truculento, invadiu as dependências da CEF exorbitando no cumprimento de um mandado judicial. Agora, sem qualquer mandado judicial, de forma livre e espontânea, V Sa. pede “ajuda” da mesma Polícia Federal para agredir e tripudiar os seus empregados que estão a exercer um legítimo direito.

Até nisso V. Sa conseguiu extrapolar, pois a CEF, em toda a sua centenária história, jamais precisou recorrer à Polícia Federal e muito mesmo à violência para resolver suas questões de trabalho, incluindo os casos de greve.

A sua conduta vem demonstrando de forma cabal e inequívoca o quão V. Sa é indigno e antidemocrático, fazendo uso de métodos coercitivos para inibir o que o ser humano tem de mais precioso, a liberdade de manifestação e de expressão. Adjetivos deste nível são talhados para alguém com sua trajetória à frente da Caixa, que, apesar de curta, já é tão controversa e imoral, porém coerente com alguém com uma personalidade mesquinha como a sua.

Acredito que V. Sa deve estar se perguntando quem é que lhe censura.

Permita-me apresentar:

Chamo-me Paulo Roberto da Silva Pinto, sou aposentado da CEF por invalidez, pois infelizmente coloquei algumas pontes no coração, certamente derivadas de momentos de angústia ocorridos em graves passadas, travadas contra governos que em tese deveriam ser mais insensíveis e violentos, uma vez que não faziam parte da classe trabalhadoras. Mas acredite, senhor Presidente , eles, indubitavelmente, se mostraram mais honestos e coerentes do que o governo do qual V. Sa faz parte e que hoje está instalado no poder do nosso Brasil. Registro agora e de público que sempre votei, digo votei porque não mais votarei no atual presidente da República – Luiz Inácio Lula das Silva – que, ao ser conivente e permissivo com seus atos, vem também traindo paulatinamente os princípios básicos do exercício da cidadania.

Não tenho aspirações políticas e as reivindicações dos economiários não me trarão nenhuma vantagem pecuniária, mas mesmo assim brigo; brigo por um Brasil melhor sem dúvida, brigo sem a necessidade de me promover e assim me sentir à vontade para manifestar, com a transparência que o caso requer, toda a indignação de uma classe (os economiários) e de reagir como qualquer cidadão cioso dos seus direitos.

Lutei em todas as greves que houveram, enquanto empregado da CEF, posso bradar aos quatro cantos que lutei ao lado de companheiros como Érika, hoje deputada distrital pelo PT, Tânia, Sheila, Júlio, Gonzaguinha, Abelardo e outros mais. Se neste momento me consentir, gostaria de lhe pedir para não mais chamar ninguém de “companheiro”, pois essa palavra empregada por V. Sa deprecia o simbolismo do seu significado.

Assim, senhor Presidente, o meu passado e a minha história reforçam ainda mais o meu direito de lhe falar o que tenho vontade, de criticá-lo e dizer finalmente: renuncie. Não renunciar. Não renunciar necessariamente à presidência da CEF – o que no seu caso seria um ato de coerência – pelo menos um – e sim renunciar à vida pública, uma vez que ela vem sendo pautada pela conduta antiética, truculenta, traidora e corrupta (como disse anteriormente, o poder corrompe os ideais) e desta maneira certamente não vale a pena vivê-la.

Finalmente, coloco-me à disposição de V.Sa, caso julgue necessário, para discutirmos pessoalmente todas as opiniões aqui emitidas.

Que Deus um dia possa perdoá-lo.

Paulo Roberto da Silva Pinto
9204-5005


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