Re: [CamaraDas] Artigo: J.P. Coutinho

  • From: Niquele <niquele@xxxxxxxxx>
  • To: CamaraDas <analistas2002@xxxxxxxxxxxxx>
  • Date: Thu, 3 Aug 2017 17:08:24 -0300

Duvido muito.
Vêm, pelo menos, mais umas 3 reformas nos próximos dois decênios.
E João Dória e/ou Alckimin presidente.
Que Deus nos socorra!

Em 3 de agosto de 2017 16:56, Leandro Neves Cariello <
leandro.cariello@xxxxxxxxx> escreveu:

Será que vocês vão conseguir???

Em 03/08/2017 21:41, "Niquele" <niquele@xxxxxxxxx> escreveu:

Leandro é aposentado ostentação!
Aposentar virou luxo.... haha

Em 2 de agosto de 2017 12:30, Leandro Neves Cariello <
leandro.cariello@xxxxxxxxx> escreveu:

Valeu, Rita. Abraços em todos.


Em 2 de agosto de 2017 11:56, Rita Fukuhara <ritafuku@xxxxxxxxx>
escreveu:

Isso mesmo! Muito bom! Saudades Leandro!

Em 1 de agosto de 2017 15:05, Leandro Neves Cariello <
leandro.cariello@xxxxxxxxx> escreveu:

Voltou com tudo, Niquele!

Em 1 de agosto de 2017 09:14, Niquele <niquele@xxxxxxxxx> escreveu:

Contar ou não contar ao amigo enganado, eis a questão
Angelo Abu/Editoria de Arte
[image: João Pereira Coutinho de 1º.ago.2017]

01/08/2017  02h17

Parece coisa de filme: estar na hora errada, no lugar errado. Ou,
para os otimistas, estar na hora certa, no lugar certo. Não sou um 
otimista.

O dia era promissor: dormi até tarde, fui nadar, almocei com os
jornais. E já tinha bilhetes para assistir ao concerto de Woody Allen e 
sua
banda de jazz no Coliseu de Lisboa.

Quando abandonava o restaurante, a namorada de um amigo era beijada
por um estranho com intensidade cinematográfica no canto da sala.
Instintivamente, pensei que fosse abuso: cavalheiro como sou, avancei 
para
salvar a donzela.

A donzela não precisava ser salva. Eu, sim: quando me viu, desviou o
olhar como se não me conhecesse de lado algum e continuou a conversa. Ela
sabia que eu sabia que ela sabia, e blá blá blá.

Caminhando pela calçada, repeti a célebre questão do príncipe da
Dinamarca: contar ou não contar ao amigo enganado, eis a questão.

Procurei ajuda. Partilhei a revelação com a minha mulher, que logo
aconselhou: entre amigos verdadeiros, há conversas verdadeiras.
Hipocondríaco que sou, procurei logo uma segunda opinião.

"Não sejas louco", aconselhou-me um amigo em comum. A vida dos outros
não é da nossa conta. E a mentira tem pavio curto. "Ele que abra os 
olhos",
eis a sentença implacável.

Como o burro de Buridan, fiquei no meio da ponte. Seria fácil
esquecer o assunto se o casal vivesse na China. Azar. Vivemos na mesma
cidade e havia um jantar combinado para o sábado seguinte.

Fomos. Ela abriu a porta, cumprimentou-nos e, no meu caso, até
perguntou: "Está mais magro ou é impressão minha?".

Eu, com queda para o drama, respondi: "Tenho dormido mal".

Claro que tenho dormido mal. "Não pratica esporte com regularidade",
sentenciou o meu amigo, que me apertou os ossos da mão com uma vitalidade
obscena. Primeiro pensamento: ela não contou. Segundo pensamento: e 
agora?.

Vieram as primeiras bebidas. Falei pouco. Eles falaram bastante: as
férias em agosto, problemas com os pais dele, um filme qualquer de um
diretor qualquer. Eu olhava para ele (com compaixão) e depois para ela 
(com
estupefacção).

Quando nos preparávamos para o jantar, ela fez-me um sinal para
falarmos a sós na cozinha. Sorri. Ainda há esperança no mundo?

"Não digas nada", começou a donzela, "mas estive a pensar no presente
surpresa para o aniversário dele." O mundo não merece a minha esperança.

O jantar foi tenso. Para mim, não para eles. Estranharam o meu
silêncio, pontuado por monossílabos hostis. Ele, para quebrar a modorra,
perguntou pelas minhas leituras. "Que tem lido, doutorzinho?"

Com voz áspera, o doutorzinho respondeu: "Os clássicos". E
acrescentou, no mesmo tom: "'Anna Kariênina', 'Madame Bovary', 'O Amante 
de
Lady Chatterley'...". Depois, olhei para ela: "Vocês sabem do que estou a
falar".

Sabiam e concordaram. "Os clássicos não envelhecem", disse ele, em
lamentável clichê. "É como a infidelidade", disse eu. "Exatamente", disse
ela, rindo.

Depois do jantar, houve um momento em que fiquei a sós com ele. A
oportunidade surgiu com um comentário ("passa-se alguma coisa contigo?"),
mas logo desapareceu com a minha covardia ("cansaço, só cansaço."). A
conversa ficou por ali.

Regressei para casa com uma fúria sufocada. "Esquece o assunto",
aconselhou-me a patroa. Esqueci.

Mentira, claro. Nessa mesma noite, escrevi um e-mail com as
entranhas: que a amizade era importante para mim; que a honestidade 
também;
que a minha consciência era uma "puta exigente" e outros melodramas de
folhetim. Contei-lhe a verdade.

Recebi silêncio como resposta. Respeitei. Passou quase um mês. Voltei
a dormir como um anjo.

Ontem, o dia era promissor: acordei tarde, fui nadar, mudei de
restaurante. Quando me sentei à mesa, o sangue parou e congelou: o 
maldito
casal pagava a conta à minha frente.

Levantei-me, aproximei-me e desabafei: "Ainda bem que acabou a farsa,
Patrícia".

Ela olhou para mim –primeiro com espanto, depois com um sorriso
caridoso– e respondeu com uma pergunta: "O senhor não estaria me
confundindo com a minha irmã?".

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